A história de uma instituição escolar é construída pelos seus atores (profissionais da educação, alunos, pais, comunidade, etc.), e por seus documentos (regimentos, legislações, fotos, prédios, espaços, etc.). Da mesma forma são relevantes os relacionamentos entre esses mesmos atores, que não são documentados, mas que contribuem para fortalecer características de uma determinada cultura escolar.

 

A intenção dessa pesquisa foi construir a narrativa da história do IFC Campus Concórdia, pela ótica da indisciplina, tendo como recorte temporal os anos de 1965 a 1975.

 

E para isso, é necessário conhecer um pouco do histórico da educação profissional e do ensino agrícola no Brasil.

JORNAL DO BRASIL – Rio de Janeiro – Quarta-feira, 7 de abril de 1965.
Fonte: http://memoria.bn.br/pdf/030015_1965_00080.pdf

 

 

BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

 

A educação profissional no Brasil originou-se com uma característica assistencialista, ou seja, tinha como objetivo oferecer aos desvalidos, como crianças órfãs, delinquentes e pessoas pertencentes às classes mais baixas, ensino para a realização de algum ofício. Os primeiros registros que se encontram sobre a ação do Estado na educação profissional formal no Brasil remetem a partir do século XIX, “(…) mais precisamente em 1809, com a promulgação de um Decreto do Príncipe Regente, futuro D. João VI, criando o Colégio das Fábricas” (MOURA, 2007, p. 5).

 

Nesse processo de início de profissionalização da classe menos favorecida, o Brasil ofertava “Colégios de Fábricas, Casas de Educandos e Artífices, Asilos da Infância dos Meninos Desvalidos, dentre outros” (SCHENKEL, 2012, p.113), tendo como primeiros aprendizes de ofícios os índios e os escravos. E essa característica contribuiu para o desprezo ao trabalho manual, que não deveria ser executado pelos homens livres de classes econômicas mais altas.

 

Desse modo o ensino é marcado pela sua dualidade. Somente os menos favorecidos deveriam ingressar ao ensino profissional, assim como seus filhos e toda a sua geração, perpetuando a característica mais instrumental do seu ofício. Aos filhos das classes mais abastadas, era facultado o acesso ao estudo propedêutico, considerado com características intelectualizadas e preparando para a gestão, e não para a execução das atividades.

 

O artigo “História Socioespacial Do Trabalho No Brasil, Educação Profissional E Tecnológica e a Questão Regional”, dos autores Cloves Alexandre de Castro, Reginaldo Leandro Plácido e Cladecir Alberto Schenkel, contribuem para uma análise acerca da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil, situando a história da educação profissional e a história socioespacial do trabalho no país, desde o momento em que foi iniciada a colonização
Acesse aqui: http://www.periodicos.ufc.br/labor/article/view/44200/162282

 

REFERÊNCIAS

MOURA, Dante Henrique. Educação básica e educação profissional e tecnológica: dualidade histórica e perspectiva de integração. Holos, Natal, v.2, p.1-27, 2007. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/11/110. Acesso em: 15 out. 2020.

 

SCHENKEL, Cladecir Alberto. Gestão ambiental: perfil profissional e formação em cursos superiores de tecnologia e de bacharelado. 2012. 348 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/13630/1/d.pdf. Acesso em: 26 set. 2019.

Decreto nº 7566, de 23 de setembro de 1909, instituiu a Escola de Aprendizes Artífices
Fonte: https://spo.ifsp.edu.br/images/arquivos/Criacao_IFSP.jpg

ENSINO AGRÍCOLA NO BRASIL E EM CONCÓRDIA

 

O ensino agrícola surgiu no Brasil com a proposta de fixar o homem no meio rural, de modo a conter a migração intensa que estava ocorrendo para as cidades, que eram incapazes de absorver esse fluxo por falta de postos de trabalho (SOBRAL, 2009). A regulamentação do ensino agrícola de nível médio ocorreu após a Era Vargas, por meio do Decreto-Lei nº 9.613, de 20 de agosto de 1946, que estabeleceu a Lei Orgânica do Ensino Agrícola.

 

Em nível macro, em 1966, introduziu-se no País, nos Colégios Agrícolas Federais, o modelo de “Escola Fazenda”.
As explanações de Schenkel (2012) e Espit (2014), esclarecem que foram firmados acordos dos Ministérios da Agricultura e Ministério da Educação e Cultura com a United States Agency for International Development – USAID e o Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso – CONTAP, a fim de formar profissionais para promover mudanças nos padrões de técnicas agrícolas que eram adotadas, e servir ao capital agroindustrial. Esse modelo de Escola Fazenda, tinha como método a vivência das experiências na prática, com uma linha pedagógica tecnicista, fazendo-se valer do trabalho em tempo integral, inclusive com plantões nos finais de semana e nas férias, justificando a necessidade de internato e alimentação aos alunos.

 

Em Concórdia, o Ginásio Agrícola foi implantado em 1965. Em 1968 ocorreu a formatura dos primeiros 25 de Mestres Agrícolas. Em 1972 o nome da escola foi alterado para Colégio Agrícola através do Decreto nº 70.513. Por meio do Decreto nº 83.935, de 4 de outubro de 1979, houve nova mudança e a escola passou a denominar-se Escola Agrotécnica Federal de Concórdia. Posteriormente, foi transformada em Autarquia Federal pela Lei nº 8.731 de 16 de novembro de 1993, “vinculada ao Ministério da Educação, nos termos do artigo 2º do anexo I, Decreto nº 2.147 de 14 de fevereiro de 1997, adquirindo autonomia didática, disciplinar, administrativa, patrimonial e financeira” (Instituto Federal Catarinense, 2016).

 

Para saber mais, acesse o artigo:
BENKENDORF, S. K. J. .; PLÁCIDO, R. L. .; TODOROV, D. M. Tecendo a história do Instituto Federal Catarinense, Campus Concórdia (1965-1975): histórias de (in)disciplina. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 10, p. e7949109239, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i10.9239.
Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/9239

 

REFERÊNCIAS

 

ESPIT, Antonio Carlos. O internato no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia: pensionato ou educandário. Tese (Doutorado em Educação nas Ciências). Departamento de Humanidade e Educação/Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências.Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2014. 327 f. INSTITUTO Federal Catarinense – Campus Concórdia. Histórico. 2016. Disponível em: http://concordia.ifc.edu.br/institucional/historico/. Acesso em: 27 set. 2019.

 

SCHENKEL, Cladecir Alberto. Gestão ambiental: perfil profissional e formação em cursos superiores de tecnologia e de bacharelado. 2012. 348 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/13630/1/d.pdf. Acesso em: 26 set. 2019.

 

SOBRAL, Francisco José M. Retrospectiva Histórica do ensino agrícola no Brasil. Revista Brasileira da Educação Profissional e Tecnológica, [S.l.], v. 2, n. 2, p. 78-95, jul. 2009. ISSN 2447-1801. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/RBEPT/article/view/2953. Acesso em: 13 nov. 2019.

Nota sobre os cuidados éticos para a realização da pesquisa e uso das informações.

 

Comunicamos que a presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto Federal Catarinense. E todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento (TCLE), no qual todos os passos da pesquisa estão explanados a fim de que a escolha pudesse ser feita da forma mais livre e esclarecida possível. Os termos foram assinados em duas vias, sendo que uma das vias assinadas ficou com os participantes da pesquisa e a outra com a pesquisadora. Da mesma forma, foi assinado o Termo de autorização de uso de imagem e nome, para os que assim autorizaram.

Agradeço a colaboração e gentileza dos entrevistados que tornaram possível essa pesquisa e esse importante resgate das origens do IFC Campus Concórdia:

 

– Almiro Dahmer
– Armando Lopes Do Amaral
– Celso Luiz Lemos
– Dores Anton
– Juraci Maria Ruth Schmidt
– Levino José Bassi
– Nelson Romani
– Renato Dalla Costa
– Reni Roque Marconatto
– Valmor Fiametti

Créditos aos que colaboraram na construção do site:

 

– Shyrlei K. Jagielski Benkendorf (Pesquisadora)
– Doutor Reginaldo Leandro Plácido (Professor e Orientador)
– Marcelo Schaefer (Desenvolvedor Web)
– Gil Goss e Laura Jagielski Benkendorf (Edição de Video).

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